Palestra | A Participação da Maçonaria na Revolução de 1932 | 19.07.2024

Na noite do dia 19 de julho de 2024 na A∴R∴B∴L∴S∴ “Ir∴ Firmino Escada”,  2220, Oriente de Lorena, pertencente ao 8º distrito da 19ª Macrorregião, o Irmão André Carolino, MM, no tempo de estudos apresentou um trabalho intitulado “A Participação da Maçonaria na Revolução de 1932″, em comemoração aos 92 anos da Revolução Constitucionalista de 1932.

No referido trabalho foram apresentadas várias fotos de vários momentos da revolução, também foi levado para apreciação dos irmãos artefatos encontrados em trincheiras.
 
Vários irmãos de diversas lojas se manifestaram sobre o tema enaltecendo a importância de mantermos o legado de “32” vivo em nossa história.
Ao final da apresentação foi apresentado um vídeo com o poema do poeta da Revolução Guilherme de Almeida intitulado Nossa Bandeira.
 
Viva são Paulo, viva os heróis de 1932, viva ao MMDC!

A fotografia em preto e branco é de um tenente do exército constitucionalista e pertence ao acervo preto.

Ao lado na imagem colorida é uma foto feita nos bastidores do filme SP 32 do cineasta Cássio Martins onde o irmão André Carolino participou.

A foto não foi uma recriação e sim uma feliz coincidência, a semelhança é bem grande, e só foi percebida meses depois pelo historiador Rodrigo Gutemberg.

A Maçonaria Paulista na Revolução de 1932
Extrato de Artigo de José Castellani

A Revolução Constitucionalista

Em 1932, já voltara a ser tensa a situação político-social do país, pela demora do Governo Provisório, do caudilho Getúlio Vargas, em providenciar uma nova Constituição ao Brasil. À euforia dos primeiros momentos após o golpe, sucedia o desencanto, seguido da inquietação, que acabaria envolvendo os meios maçônicos. E essa inquietação, com a consequente agitação dos meios sociais, era mais forte em São Paulo, levando à extrema irritação os que, anteriormente, eram os mais fervorosos adeptos do levante, ou seja, os membros do Partido Democrático, os quais se sentiam esbulhados do poder, por interventores militares e estranhos ao Estado de São Paulo. Já a partir do início de 1931, da pena do advogado, jornalista e tribuno Ibrahim Nobre, maçom originário da Loja Fraternidade de Santos, saiam críticas mordazes contra o golpe e a situação social, publicadas no jornal paulista “A Gazeta”.

No início de 1932, então, o pensamento da população de São Paulo seria cristalizado na expressão “Civil e Paulista”, repetida pelos meios de comunicação, externando o desejo de ter um interventor federal que não fosse militar e que fosse de São Paulo. A 3 de março, ouvindo o clamor dos paulistas, o ditador nomeava, para o cargo, o embaixador Pedro de Toledoex Grão Mestre do Grande Oriente Estadual (1908-1914), o qual assumiria no dia 7. Essa indicação, todavia, não serviu para aliviar o mal estar e a tensão reinantes em diversos pontos do país, começando, dessa maneira, a fermentar a revolta.

As reuniões preparatórias do movimento foram levadas a efeito na sede do jornal “O Estado de S. Paulo”, fundado, em 1875, com ideias republicanas, pelos maçons Américo de Campos (Loja América)Francisco Rangel Pestana (Loja América), Manoel Ferraz de Campos Salles (Loja Sete de Setembro) e José Maria Lisboa (Loja Amizade). Nessa época, o jornal já era dirigido por Júlio de Mesquita Filho (Loja União Paulista II), que era um dos principais líderes do movimento.

O estopim da revolta já havia sido aceso a 23 de maio de 1932, quando, durante uma manifestação, na praça da República, alguns jovens — Mário MARTINS de Almeida, Amadeu MARTINS, Euclides MIRAGAIA, DRÁUSIO Marcondes de Sousa e Antônio Américo de CAMARGO, cujos nomes deram origem ao M.M.D.C. foram mortos pela polícia política da ditadura, entrincheirada nos altos de um prédio da rua Barão de Itapetininga. No mesmo dia, era reorganizado o secretariado do governo paulista.

Estranhamente, em sessão de 25 de maio, da Loja Piratininga, para a eleição da administração, no período 1931-1932, nada se comentou sobre esse fato marcante, preferindo, os obreiros, deter-se sobre uma crise no Grande Oriente do Brasil, onde rebeldes contestavam a autoridade do Grão-Mestre, Octévio Kelly, ao qual a Piratininga apoiava, totalmente, na Assembleia Geral.

Em reunião realizada no dia 7 de julho, com a presença de Francisco Morato, Ataliba Leonel, Sílvio de Campos, coronel Júlio Marcondes Salgado e general Isidoro Dias Lopes, ficou decidido que o levante aconteceria no dia 20, sob o comando de Isidoro e do coronel Euclides Figueiredo. Pedro de Toledo ainda tentou evitar a revolta, mandando seu genro ao Rio de Janeiro, no dia 8, para conferenciar com Vargas. Todavia, em nova reunião, nesse dia, resolveu-se deflagrar o movimento no dia 10, antes que chegasse a S. Paulo o gal. Pereira de Vasconcellos, para assumir o comando da Região Militar.

A 9 de julho, um sábado, a revolta constitucionalista estava nas ruas. Embora algumas obras didáticas situem o início do movimento às 24 horas desse dia, ele eclodiu às 11:40 hs., sob o comando de Euclydes Figueiredo, com a tomada do Q.G. da 2a. Região Militar. No mesmo dia, às 23:15 hs., as sociedades de rádio eram tomadas por civis e, a partir das 24 horas — daí a confusão de alguns autores — começava a ser repetida a seguinte mensagem:

De acordo com a Frente Única Paulista e com a unânime aspiração do povo de São Paulo e por determinação do general Izidoro Dias Lopes, o coronel Euclydes Figueiredo acaba de assumir o comando da 2a. Região Militar tendo como Chefe do Estado Maior o coronel Palimercio de Rezende. A oficialidade da Região assistiu incorporada no QG à posse do coronel, nada havendo ocorrido de anormal. Reina em toda a cidade intenso júbilo popular e o povo se dirige em massa aos quartéis, pedindo armas para a defesa de São Paulo.

No dia 10, o interventor Pedro de Toledo era aclamado, pelo povo, pelo Exército e pela Força Pública, governador de S. Paulo. No dia 12, o general Bertholdo Klinger desembarcava na Estação da Luz e, no QG da 2a. R.M., na rua Conselheiro Crispiniano, diante do microfone da Rádio Educadora Paulista, recebia o comando da região de S. Paulo, transmitido por Euclydes, que, na tarde do mesmo dia, iria para Cruzeiro, onde assumiria o comando da vanguarda das tropas constitucionalistas.

Deixado sozinho, na luta pela Constituição e pelo Brasil, os combatentes de S. Paulo, sem recursos, iriam resistir durante três meses. Sem o esperado apoio de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, as tropas paulistas, que ocuparam o vale do Paraíba, ao longo da Estrada de Ferro Central do Brasil, não conseguiram avançar além da divisa com o Estado do Rio. O bloqueio do porto de Santos e a grande concentração de forças federais, vindas de todos os Estados, venceram a resistência dos soldados paulistas, graças ao esgotamento de seus recursos.

A 28 de setembro, a luta chegava ao fim. Sem que o governo civil fosse consultado, Klinger enviou emissários aos adversários, com propostas de paz e um telegrama a Vargas propondo suspensão do conflito. Fracassados os entendimentos, porque os termos do armistício eram humilhantes para São Paulo, elementos do comando geral da Força Pública — seu comandante, Júlio Marcondes Salgado, extraordinário defensor da causa paulista, havia falecido num estúpido acidente com uma granada — sob o comando do coronel Herculano Silva, assinaram a vexatória rendição, na noite de 1o para 2o de outubro, submetendo-se ao governo ditatorial, em troca de vantagens para os seus oficiais. Herculano foi indicado para assumir o governo e, no dia 2, às 15:30 hs, mandava três oficiais seus, ao palácio dos Campos Elíseos, para depor Pedro de Toledo.

O extraordinário paulista, Pedro de Toledo, nesse dia, recebia, com extrema dignidade e serenidade, a desgraça que se abatia sobre si e sobre S. Paulo, dizendo, apenas: “São Paulo não foi derrotado! Fomos traídos e vencidos no campo das armas! Os ideais que nos levaram à luta, porém, serão vitoriosos”. Por volta das 18 horas do dia 2, quando se preparava para deixar os Campos Elíseos, ele ouvia a voz do tenente Cândido Bravo, rompendo o pesado silêncio, que cercava o fim de um sonho:

Senhor governador, estaremos sempre juntos.

Emocionado, ele respondia:

Nem poderia ser de outra forma! Estamos com São Paulo!

(segundo reportagem de Silveira Peixoto, em A Gazeta, de 3-10-1932)

A voltar, a Piratininga, à atividade, a 3 de novembro, o Venerável Mestre comunicava que, embora tivesse, a Loja, deixado de funcionar por determinação superior — do Grande Oriente de S. Paulo, dirigida a todas as suas Lojas — mas que a sua diretoria havia continuado a se reunir, semanalmente, para tomar conhecimento do expediente e para resolver os assuntos mais urgentes. E Vaz de Oliveira, interpretando o pensamento da Piratininga e de todo o povo paulista, dizia que “não pode deixar de saudar ao povo paulista pela dedicação, patriotismo e heroísmo, que tão fortemente demonstrou na guerra em que se empenhou, heroísmo que igual, quanto mais maior, em nenhuma guerra aponta a história, mesmo na mundial, bem como não pode ser apontada maior traição do que a sofrida pelos paulistas, para cujos traidores deve todo maçom cônscio dos seus deveres, evitar convívio, votando-lhes desprezo”.

A Constituinte de 1934

Em novembro de 1933, diante da instalação da Assembléia Nacional Constituinte, que era a aspiração dos paulistas, no movimento de 1932, a notícia era saudada pelos obreiros da Loja. E o Orador, Ramon Roca Dordal, propunha a inserção, em ata, de um voto de louvor e aplauso, por aquela instalação. Aprovada, unanimemente, a proposta, Alexandre de Albuquerque dizia que havia votado como paulista de coração e na qualidade de ex-combatente, mas propunha um adendo àquela resolução: que o voto de louvor e aplauso fosse extensivo ao fato da volta, a São Paulo, do Irmão Pedro de Toledo, que havia sido exilado.

Em 1934, no dia 23 de maio, emblemático para a alma paulista, depois de cumprimentos ao Irmão do quadro, Alexandre de Albuquerque, pela homenagem que recebera do Instituto de Engenharia, como um importante engenheiro civil de S. Paulo e pela sua atuação na Revolução Constitucionalista, Guilherme de Carvalho, dizendo que aquela era a “data aniversária da libertação paulista”, pedia que a sessão fosse encerrada, em homenagem a ela e aos jovens mortos em 32. E Roca Dordal, inflamado, referia-se “à posição injusta em que, por todos os meios, procurava a ditadura colocar S. Paulo, que, muito embora vencido nos seus altos desideratos pela eventualidade de circunstâncias ligadas à força, assim não se considerava; devido a nobreza da causa que defendera, e graças a sua força moral, ao progresso a que soube elevar-se, conseguiu o fim que almejava, e mantém-se firme e admirável na conquista do justo e do direito, não só para o seu bem, mas para o do Brasil não discrepou do lugar de destaque em que o colocaram os seus antepassados; antes mesmo continuou o seu traçado de luta e de glória, impondo-se à admiração mundial”. Poderia, até, ter terminado sua fala, com a citação de um pequeno trecho do vibrante “Minha Terra”, oração de bandeirantismo do Irmão Ibrahim Nobre, o tribuno de São Paulo. Fazendo juz ao seu título distintivo, na São Paulo de Piratininga, a Loja firmava-se como a Piratininga de São Paulo.

Em julho, promulgada a nova Constituição brasileira, pela qual lutara S. Paulo, em 32, Roca Dordal tecia comentários sobre a instituição maçônica e a luta de São Paulo:

“A reunião de quatro confrarias, em Londres, em 1717, dá origem à Maçonaria que um grupo de homens destemidos, fortes, cansados da tirania e da escravidão, que envolvia a nação e, podemos dizer, a Europa, resolveram traçar novos princípios regeneradores dos costumes da Humanidade sofredora. É a Maçonaria — que em breve seria forte bastante para pôr um dique ao despotismo universal. Mas essa seita, essa reunião de homens de ideais e de vontades inquebrantáveis, teve de preparar sua luta sem tréguas ao obscurantismo e á opressão. Agrupados esses homens de costumes puros, de energia e coragem para os mais duros sacrifícios, entraram a pregar no meio da sociedade com o mais absoluto sigilo, escolhendo os homens, que dedicados até ao sacrifício, desejavam uma Humanidade melhor. E o sacrifício é necessário! Não ha na historia da Humanidade uma conquista que não custasse rios de sangue e sacrifícios sem conta, aqueles que primeiro se opuseram ao arbítrio e á tirania. São Paulo recolhe os benefícios de uma Constituição, pelo sacrifício dos que não se submeteram ao capricho de uma ditadura, de um poder discricionário e tirânico. É o fim que almejavam os sinceros maçons, cujos sacrifícios serão pequenos, em face da vitória alcançada”.

Infelizmente, a frágil Constituição de 1934, não garantiria a continuidade de um regime realmente democrático, como viria a comprovar o golpe de 10 de novembro de 1937.

NOSSA BANDEIRA
Poesia de Guilherme de Almeida

Bandeira da minha terra,

Bandeira das treze listas.
São treze lanças de guerra.
Cercando o chão dos Paulistas!

Prece alternada, responso
Entre a cor branca e a cor preta:
Velas de Martim Afonso,
Sotaina do Padre Anchieta!


Bandeira de Bandeirantes,
Branca e rota de tal sorte,
Que entre os rasgões tremulantes,
Mostrou a sombra da morte.

Riscos negros sobre a prata:
São como o rastro sombrio,
Que na água deixava a chata
Das Monções, subindo o rio.

Página branca pautada
Por Deus numa hora suprema,
Para que, um dia, uma espada
Sobre ela escrevesse um poema:

Poema do nosso orgulho
(Eu vibro quando me lembro)
Que vai de nove de julho
A vinte e oito de setembro!

Mapa de pátria guerreira
Traçado pela Vitória:
Cada lista é uma trincheira;
Cada trincheira é uma glória!

pg.1

 Tiras retas, firmes

Quando o inimigo surge à frente,

São barras de aço guardando
Nossa terra e nossa gente.

São dois rápidos brilhos
Do trem de ferro que passa:
Faixa negra dos seus trilhos
Faixa branca da fumaça.

Fuligem das oficinas;
Cal que as cidades empoa;
Fumo negro das usinas
Estirado na garoa!

Linhas que avançam; há nelas,
Correndo num mesmo fito,
O impulso das paralelas
Que procuram o infinito.

É desfile de operários;
É o cafezal alinhado;
São filas de voluntários;
São sulcos do nosso arado!

Bandeira que é o nosso espelho!
Bandeira que é a nossa pista!
Que traz no topo vermelho,
O coração do Paulista!

pg.2

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